
Casa lotada e um show enorme. O grupo Cambada Mineira nasceu como uma espécie de confraria de mineiros no Rio de Janeiro, que pretendia reunir os compositores daquele estado na cidade maravilhosa. Ao se firmar, tornou-se, para começar, a melhor referência das tradicionais mineirices de Bituca, Lô e companhia. E mais, muito mais do que isso. As composições do grupo, em maior parte feitas por João Francisco e Amarildo Silva com suas parcerias, são todas de excelente bom gosto. Os arranjos não têm erro. Comentários correram pelo lounge após o show, de que Lô Borges (na foto à esquerda) disse a João Francisco que ele é o melhor arranjador de suas músicas.
Elogios merecidos. Quem não viu, perdeu. Vocais certeiros, a marca perene do meu querido amigo João, que também dirige o Seresta Moderna, fizeram renascer as músicas mineiras em sua homenagem ao Clube da Esquina. Houve grande reverência à marca dos primórdios de Minas, porém com uma cuidadosa desconstrução dos antigos arranjos, seguidos da assinatura dessa Cambada.

Acima, João Francisco. Sua condução das bases é essencial no grupo, a alma da harmonia no Cambada Mineira (e no Seresta Moderna também). Poucas vezes se vê alguém com tanta destreza, habilidade e suíngue na mão direita, e muito menos para cantar ao mesmo tempo (pasme: a terças, quintas, nonas, sei lá a quais intervalos da melodia principal). Pra mim, um baita líder. Extremamente caprichoso e detalhista. Sabe projetar exatamente as melhores qualidades de cada membro em um grupo sem dar atenção a virtuosismos desnecessários.


Rodrigo Santiago, sem ser eu. Violonista virtuoso, e ótimo 'cantador'. Sua voz é melodiosa, tendendo pro agudo, e aveludada. Faz falsetes excelentes. Executa todos os ornamentos do arranjo - solos, frases, harmonias auxiliares. Curiosamente, um canhoto que toca com violão para destros. Tudo ao contrário. É o fanfarrão do grupo, de humor retumbante. O terceiro na alma do cambada.


Mário Zazv - Grande baixista, e uma figuraça. Pense num grande cantor brasileiro. Provavelmente Zazv já tocou com essa pessoa. Maria Bethânia, Caetano, Lulu Santos, João Bosco... Esse cara tá em todas. Sem comentários, sua simpatia é nítida, mesmo na foto.
Como sempre, exibiu simpatia, sorrisos, uma presença de palco implacável. Interpretou uma das canções do Cambada, chamada Foi Assim - uma valsa linda, feminina, que conta o momento em "que o amor se fez" entre um casal.
Sim, mais uma vez ela abusou. Esta noite foi a primeira vez em que ela subiu no palco do Rival. Pra quem ainda não sabe, Manu Santos e João Francisco se conheceram há muito tempo, mas apenas recentemente começaram a trabalhar juntos, no Seresta Moderna. No princípio, eu acompanhei alguns ensaios, e mais tarde o João me convidou para participar da produção do grupo. Logo depois, me tornei também um dos integrantes, entrando no espetáculo como uma espécie de faz-tudo. Toco um pouquinho de violão, samplers, teclado, percussão e canto. Cada hora uma coisa.
A presença dela no Teatro Rival no show de um grupo mineiro que circula o Brasil inteiro nos deu a certeza de que o seu talento é puro, independente de estilo.
A participação foi um tremendo convite do João, que mais tarde seria assinado pelos outros membros do Cambada. O que ela tem de mineira? Nada. O que tem de talento, profissionalismo e, principalmente, caráter? Tudo o que é necessário para ganhar a plena confiança de todos.
Quando houve a prévia do show no Rival, que aconteceu no Espírito das Artes, no Humaitá, ouvimos amigos do grupo dizendo: "essa participação arrebentou a porteira". Coisa de mineiro mesmo, estavam muito surpresos. Esse comentário veio de uma galera que mora na Vila da Penha, pessoas da tal "violada de Domingo", que leva gente boa, como o Luis Carlos da Vila. No Rival, enquanto eu fotografava o show da mesa 18, na frente do palco, tive a companhia de um membro da violada, um simpático senhor que chegou lá de chapéu de couro, botas e um berrante a tira-colo, me perguntando se eu já conhecia o grupo, e dizendo que já os conhecia, "da violada da Vila da Penha".
Manu Santos é carioca do subúrbio do Rio. Bangu. Mais especificamente, do Bairro Jabour, terra do meu querido Hermeto Pascoal. Minha terra santa, onde cresci. É minha vizinha, estava ali o tempo todo, cantando - cantando demais - até que mais tarde se tornaria amiga da minha irmã, que nos apresentaria. Tem um coração do tamanho do mundo, além de ser muito cuidadosa e preocupada com todos ao redor.
Ao longo deste trabalho, tivemos a felicidade de conhecer a família do nosso querido amigo.


Aqui estão, da esquerda para a direita: Marina Barreto, sempre descontraída, sorridente e espontânea - apresentadora da Rádio Mec, onde estivemos com o Seresta Moderna no programa Entre Amigos -, Manu Santos e Gerdal de Paula, que conhecemos através do João Roberto Kelly. Gerdal é um cara muito, muito culto, de fala mansa e bem pronunciada, letradíssimo mesmo. É conhecedor, catalogador e conhecido de tantos e tantos artistas. Seu apreço pelos talentos musicais o faz ser uma pessoa muito querida no meio. Ele está em todas, sempre presenteando-nos com notícias de novos grupos e lugares onde rola a boa música carioca.


Manu Santos e Lô Borges. As coisas estão realmente acontecendo. De pouquinho em pouquinho, Graças a Deus.

Eu e o grande João Francisco, ou "John Francesco", como costumo chamá-lo de vez em quando. Foto tirada pela Manu. Tá achando o quê? O documentador da festa tem que aparecer! Ela já sabe tirar fotos com a minha câmera, o que não é tão trivial.
É muito gente boa. Sem comentários pra dizer o quanto gosto de você, meu camarada. Parabéns a você, ao Amarildo, e ao outro Rodrigo Santiago, meu xará ao quadrado.
Também estiveram presentes no show Juli Mariano, cantora de timbre único, que já foi integrante do Seresta Moderna, em sua primeira formação, mas que neste ano "tirou licença poética" pra cuidar mais de perto do Turma da Bossa, seu trabalho principal. Nina Lima, que produz Cambada Mineira, Seresta Moderna, Cama de Gato, Pascoal Meirelles, Julinho do Trompete - instrumentista de oitenta e poucos anos que era radicado na Alemanha e agora voltou ao Brasil, entre tantos outros. Moacir Magalhães, gente boníssima e parceiro nosso na produção do Seresta. Faltou gente pra dividir, a felicidade era demasiada pra ter apenas estes tantos amigos.
Uma imagem vale mais do que mil palavras. Aqui temos várias imagens, muito mais do que mil palavras, e pra finalizar o tom da conversa, deixo dois vídeos que fiz do show. O Cambada é demais, a Manu é demais, o Lô é demais. Estava todo mundo junto, feliz da vida.
Foi Assim - Cambada Mineira e Manu Santos.
Trem Azul - Cambada Mineira, Lô Borges e Manu Santos
Um abraço,
Rodrigo Santiago